B42. Quando tudo passa… o que escolho guardar?

🕊️

Corremos de um lado para o outro.
Atrasados. Ou com pressa.
Criamos — e, nesse criar, vamos-nos fazendo.
E desfazendo.

Às vezes, dou por mim a pensar:
serei só eu a questionar o que fica, no final?

Tudo o que seguro
pode escorregar-me das mãos.
O que sou… esse fica.
Ou talvez não.
Talvez até isso seja só uma ideia
que escolhi acreditar.

Na verdade,
nada do que tenho me pertence em absoluto —
é como areia entre os dedos:
fica o sal na pele,
mas não a posse.

E, se tudo passa...
o que escolho guardar para mim?

Vivemos de passagem.
Mas e se este instante for morada?
E se for aqui que a vida nos pede
presença total?

O verdadeiro destino é o movimento.
Tudo o que temos é transitório —
é caminho, não destino.

A bagagem… essa segue em nós.
Sempre leve —
quando aprendemos a deixar ir
o que já não somos.
E a guardar o que permanece,
mesmo quando parte.

Ana Filipa Amaral

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