B4. Dias cinzentos levam o que já não é preciso em mim
Dias cinzentos não batem à porta; entram sem avisar.
Trazem consigo tudo o que evitamos: os medos que enterrámos, os sonhos que adiámos, as verdades que recusámos enfrentar. De repente, não há como fugir.
No dia a dia, escondo-me na rotina. Trabalho até à exaustão, acreditando que ocupar-me irá silenciar o vazio. Transformo o sentir em pensar, enquanto corro sem sair do lugar.
Tornei-me perita em desculpas: “Ainda não é o momento” ,“Preciso de mais tempo.” Mas, o momento certo nunca irá chegar para quem adia andar!
Até que chega o dia em que tudo colapsa e sou forçada a parar! As emoções que evitei tornam-se incontroláveis. O medo sussurra que é mais seguro ficar na zona confinada ao conforto.
Ao olhar para dentro, percebo que aquilo a que chamo “conforto” já não serve para mim.
O vazio grita por mudança, é hora de agir!
É nesse ponto de viragem que, em mim, algo desperta.
“Até compreenderes quem realmente és, por muito boas que sejam as tuas relações e circunstâncias, não conseguirás livra-te da sensação de que te falta alguma coisa, um sentimento subtil de vazio e de anseio no coração”
Uma verdade simples mas poderosa emerge: a mudança não depende de circunstâncias externas, depende de escolhas - das minhas escolhas. As desculpas desmoronam, vejo que sou eu que tenho a chave mão. Abro a porta e o caminho – antes ofuscado pelo ruído da vida – revela-se diante de mim.
Percebo que a força de recomeçar não está nas condições externas, mas na coragem de encarar o que evitei. O poder reside em mim!
Começo a redefinir prioridades e a desenhar o meu plano de ação. Coloco três filtros em cima da mesa:
O que realmente importa para mim?
O que quero construir com a minha vida?
O que preciso de deixar para trás para avançar?
Essas perguntas tornam-se bússolas. E este desacelerar permite-me valorizar o essencial – o riso, os pequenos prazeres, os momentos de conexão – que me devolvem intensidade à chama que quase apaguei. Cada passo para fora do vazio é uma escolha consciente.
Escolho olhar para os dias cinzentos como aliados. São dias de limpeza interior. Escolho vê-los como oportunidades para redefinir quem sou e o que quero viver. Porque, no fundo, os dias cinzentos não nos derrubam; são eles que nos ajudam a reconstruir.
Dias cinzentos não são um fim, mas um início em si!
Referências bibliográficas: “Quando as coisas não correm como queremos” (Haemin Sunim) - Editora Pergaminho