B38. A sombra que me protege

Há partes de mim que foram ensinadas a esconder-se. Aprendi a reprimir, esquecer e abandonar pedaços inteiros de quem sou, em nome da aceitação e da sobrevivência. Foi assim que nasceu a sombra em mim — não como inimiga, mas como guardiã silenciosa daquilo que eu ainda não conseguia trazer à luz.

Hoje, ao ver a minha sombra refletida no chão, percebi: é o único lugar onde não me posso abrigar do sol. E entendi também… que não é essa a sua missão. A minha sombra não me abriga por fora — mas protege por dentro.

Guarda, em silêncio, os talentos que esqueci, os desejos que silenciei, a força que ainda não tive coragem de habitar. Atravessá-la não tem que ser uma batalha — é um reencontro. Na minha sombra não vive só a dor. Vive também tudo o que deixei para trás por medo de não ser amada. Hoje sei que preciso de a olhar com coragem, com presença. Acolher sem fuga. Amar, com ternura, tudo aquilo que ali escondi.

Integrar a minha sombra é aceitar ambos os lados do crescimento: a luz e a escuridão. Porque só quando atravesso a sombra com a estrutura da luz é que compreendo, com maturidade e compaixão, que a sombra não é obstáculo — é caminho. Guarda, com paciência, o que de mais verdadeiro existe em mim, à espera de ser integrado, para que eu me torne inteira.

O eco que oiço, reconheço agora que era a parte de mim que gritava no vazio — à espera de ser habitada.

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B35. Morremos devagar ao normalizar